O thriller “O Jogo da Viúva” rapidamente se tornou um dos títulos mais assistidos na Netflix graças ao seu enredo intrigante e à inspiração em um caso criminal verídico – considerado um dos episódios mais perturbadores da justiça espanhola, repleto de traição, manipulação e assassinato.
Sob direção de Carlos Sedes — conhecido também pelo documentário “O Caso Asunta” —, o longa transporta o público para agosto de 2017, quando o corpo de Arturo Ferrer Puig é encontrado em um estacionamento de Valência. Arturo, recém-casado com a jovem Maje, torna-se o centro de uma delicada investigação conduzida pela experiente detetive Eva. Logo surgem inconsistências no relato de Maje, e as pistas começam a indicar um possível crime passional.
Segundo Ramón Campos, produtor executivo do filme, o caso real chamou sua atenção pelo aspecto psicológico: “Fiquei intrigado ao ver que alguém opta por cometer um crime em vez de um divórcio. Essa dúvida moveu o projeto. Achamos que compreendemos os motivos, mas nunca entendemos completamente o que levou Maje a manipular Salvador para cometer um assassinato. Este filme não foca apenas na vítima — coloca em destaque o perfil dos assassinos e como nossas origens influenciam nossas decisões.”
O crime real que inspirou “O Jogo da Viúva”
A produção é baseada no famoso caso conhecido como “A Viúva Negra de Patraix”, ocorrido em Valência. Apesar de nomes fictícios serem usados na obra, Maje representa María Jesús Moreno, e Arturo foi inspirado em Antonio Navarro, de 35 anos. O autor do homicídio, Salvador Rodrigo, era amante de María.
De acordo com levantamentos da mídia espanhola, María Jesús Moreno tinha 27 anos quando perdeu o marido assassinado. Criada em ambiente religioso com quatro irmãos, ela conheceu Antonio enquanto estudava enfermagem. O relacionamento se tornou oficial em 2011, e o casal foi morar em Patraix — origem do apelido midiático —, onde Antonio era funcionário de manutenção rodoviária e María atuava em um hospital local.
O casamento aconteceu em setembro de 2016. Antes mesmo da cerimônia, porém, María já era vista como infiel, como citado em publicação da Forbes. Antonio chegou a cogitar cancelar o matrimônio após descobrir a traição com um fisioterapeuta, mas permaneceu ao lado de María após ser convencido por ela.
A relação proibida e o plano do crime
O envolvimento entre María e Salvador, 20 anos mais velho e também casado, começou no mesmo hospital onde ambos trabalhavam. Segundo o jornal La Razón, Salvador, apaixonado, até considerou abandonar sua família para ficar com María. Mesmo após subir ao altar, ela manteve não apenas o romance com Salvador, mas também outros relacionamentos paralelos.
Conforme as investigações, foi durante um almoço na casa de campo de Salvador, em Ribarroja, que os dois decidiram tirar Antonio do caminho. María alegou sofrer abuso psicológico e expressou o desejo de vê-lo morto, convencendo Salvador a embarcar no plano. Ele chegou a hesitar, mas cedeu à pressão.
O assassinato ocorreu na manhã de 16 de agosto de 2017, quando Antonio saía para o trabalho. Salvador se escondeu na garagem do prédio do casal, munido de uma faca de cozinha. Assim que Antônio apareceu, foi esfaqueado até a morte, em uma ação que feriu órgãos vitais. Em seguida, Salvador descartou a arma em uma fossa séptica e as roupas, encontrando María pouco depois para reafirmar o álibi. Durante o velório, María leu uma carta comovente, assumindo o papel de viúva desolada.
Investigação, prisões e sentenças
A polícia descartou rapidamente a hipótese de latrocínio e concentrou as atenções em María, monitorando suas comunicações. Em uma mensagem a uma amiga, ela admitiu se sentir aliviada após a morte do marido, comemorando também o recebimento de pensão. Interceptaram ligações e conversas entre María e Salvador, que reforçaram o envolvimento dos dois.
O casal chegou a se reunir para alinhar versões caso María voltasse a ser interrogada. Diez dias após esse encontro, ambos foram presos.
Inicialmente, Salvador tentou assumir integralmente a culpa pelo homicídio, mas mudou seu depoimento ao descobrir que María havia iniciado um novo envolvimento amoroso na prisão. Em gravação exibida no filme, Salvador afirmou: “No início, falei que tudo era ideia minha. Mas fomos nós dois.”
A defesa argumentou que o crime foi resultado de um relacionamento tóxico, em que Salvador teria sido manipulado por María. Investigações jornalísticas apontam que María teria visto na morte do marido uma chance de evitar o divórcio e garantir a herança.
Em outubro de 2020, María e Salvador foram condenados: ela pegou 22 anos de prisão por homicídio agravado por laços familiares; ele recebeu 17 anos. Além disso, ambos tiveram que indenizar em 250 mil euros os familiares da vítima.
Atualmente, María cumpre pena na Prisão de Fontcalent, em Alicante. Segundo a Forbes, enquanto estava presa, ela engravidou de outro detento, identificado como David, condenado por assassinato em 2008. Desde julho de 2023, reside na ala materno-infantil da penitenciária, compartilhando o espaço com o bebê até que ele complete três anos.
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