Review – Bleach: Rebirth of Souls
BLEACH Rebirth of Souls é o novo game de um dos animes mais queridos de todos os tempos.

Quem nunca assistiu Bleach? Esta série de anime conquistou milhões ao redor do mundo, tornando-se um verdadeiro fenômeno cultural, com seus shinigamis carismáticos, conflitos espirituais intensos e batalhas que marcaram gerações. Com tamanha popularidade, era inevitável que Bleach inspirasse uma infinidade de produtos derivados, como games, mangás alternativos e outras adaptações. É nesse cenário que surge Bleach: Rebirth of Souls, o mais novo título da Bandai Namco, prometendo trazer de volta a emoção e a nostalgia do universo Bleach.
Conhecidos por títulos de peso como Tekken, Dragon Ball e Naruto, a Bandai Namco construiu uma reputação sólida no segmento de adaptações de anime para videogames. Agora, a investida no mundo de Ichigo Kurosaki chega acompanhada de grandes expectativas dos fãs. Mas será que o jogo atende a esse legado? Ou tropeça nos próprios Bankais? Vamos explorar em detalhes tudo o que Bleach: Rebirth of Souls oferece – com honestidade, apesar do polêmico lançamento.

Um Lançamento Conturbado
Desde já, é impossível ignorar o fato: o lançamento de Bleach: Rebirth of Souls foi um dos mais tumultuados da história recente da Bandai Namco. Problemas técnicos gravíssimos, bugs recorrentes e constantes travamentos marcaram a estreia. Embora este seja um ponto importante, nesta análise vamos focar nos méritos e defeitos do jogo em si, separando-os dos problemas do lançamento.
Trama e Fidelidade ao Anime
No quesito narrativa, Rebirth of Souls apresenta uma qualidade superior à de outros títulos inspirados em animes – como, por exemplo, a série Naruto Storm, que recorreu exaustivamente a imagens estáticas do anime durante as cutscenes. Aqui, as cenas animadas são construídas especialmente para o jogo, com direção dedicada e animações originais, aprofundando a sensação de imersão. No entanto, a experiência está longe de perfeita.
Como todo jogo baseado em mangás longos, muita coisa foi cortada. Arcos importantes, como o Resgate da Rukia, perdem momentos decisivos: não vemos o treinamento de Ichigo, a introdução de figuras marcantes ou a progressão lógica do personagem. Em vez disso, somos jogados diretamente nos combates da Soul Society, sem explicações detalhadas, e muitos eventos importantes são resumidos de forma excessivamente simples – por vezes apenas como imagens paradas. As ausências tiram intensidade da jornada e deixam a sensação de que algo ficou faltando.

O resultado? Apesar de momentos de brilho, fica um gosto de história apressada e incompleta. O desenvolvimento dos personagens, sua evolução em poder e relações, é diluído pela tesoura da edição. Certamente, o tempo de produção justifica cortes, mas sacrificar pontos icônicos do roteiro enfraquece o vínculo emocional do jogador.
Gráficos e Aspecto Visual
No primeiro contato, os gráficos até impressionam ao unir traços de anime com modelagem 3D. Os personagens são facilmente reconhecíveis, com detalhes fiéis ao material original, e os cenários conseguem capturar o clima do anime. Os efeitos de golpes e Bankai são vibrantes e aumentam a adrenalina das lutas.
Porém, após algum tempo de jogo, surgem limitações notáveis. A modelagem e as animações dos personagens lembram títulos lançados há cerca de uma década, sobretudo jogos da franquia Naruto Storm. Os movimentos de caminhada são pouco naturais – personagens deslizam de forma esquisita pelo chão, o que prejudica a imersão e transmite uma sensação de inacabado. Animar os combates foi uma prioridade maior do que polir a movimentação básica.
Nas batalhas, entretanto, o ritmo melhora: ataques especiais e técnicas de Bankai são um espetáculo visual à parte. O design dos personagens convence, com destaque para as expressões faciais (ainda que por vezes exageradas ou deslocadas). O “novo físico” dos personagens chama a atenção; agora, personagens como Ishida ganharam proporções mais realistas e menos artificiais, contribuindo para uma atmosfera mais viva.

Trilha Sonora e Atmosfera
A música de Bleach sempre foi um marco, combinando temas épicos e emotivos. Aqui, o novo jogo falha em cativar: a ausência das faixas clássicas do anime, como “Will of the Heart”, “Destiny Awaits” ou “La Distancia Para Un Duelo”, é sentida principalmente nos momentos dramáticos e nas grandes batalhas. A trilha sonora do jogo é nova, com algumas composições interessantes, mas em geral não atinge o mesmo nível de intensidade e emoção das originais.
Para os fãs mais atentos, a decepção é dupla: existem cenas chave em que o silêncio ou a música genérica substituem temas consagrados. A sensação de estar imerso naquele mundo é enfraquecida. Em contrapartida, algumas músicas de batalha, como o tema do Final Getsuga Tenshou, são bem produzidas, mas no geral a trilha deixa a desejar. Muitos jogadores optaram por desligar a música do game e usar a trilha do anime para tornar a experiência mais autêntica.
Gameplay: Mecânicas, Lutas e Repetição
Quem não tem experiência com jogos de luta baseados em anime pode encontrar inicialmente um sistema de controles confuso. O layout dos comandos, além dos botões básicos, exige certa adaptação. O brilho fica para as mecânicas visuais: teletransportes atrás do adversário, animações dramáticas de golpes e o uso estilizado de Bankai realmente fazem o jogo parecer um episódio interativo de Bleach.

O sistema de luta é centrado em ataques, bloqueios e esquivas dentro de uma lógica de “pedra-papel-tesoura” (ataques normais, quebras de defesa, defesas e contra-ataques), com combos ativados por sequências de botões. Recomenda-se fortemente o uso de controle para evitar problemas de ergonomia no teclado.
Apesar de possuir momentos intensos, o combate sofre com certa monotonia: o ciclo de atacar, bloquear e repetir combos se perpetua. Não há grandes inovações no sistema de luta se comparado a outros jogos do gênero, e os adversários controlados pela IA tendem a repetir padrões de ataques, tornando algumas batalhas previsíveis. Ativações de Bankai são o ponto alto, permitindo viradas épicas em duelos mais longos – o especial pode decidir lutas em segundos.
Existe ainda o sistema de soul stones, que oferece pequenos bônus estratégicos, mas não suficientes para transformar radicalmente o estilo de jogo. Em pouco tempo, as batalhas tendem a se tornar repetitivas, principalmente no modo história.

Online e Conteúdo Extra
Depois de terminar o modo história (ou ao menos de se acostumar ao jogo), o modo online surge como principal motivador para continuar jogando. Ali, a escolha de personagens é variada, há opções de visuais alternativos (em geral apenas mudanças de cor) e o verdadeiro desafio vem dos confrontos contra outros jogadores humanos. Neste ambiente, as mecânicas ganham vida: cada personagem revela vantagens, fraquezas e detalhes próprios – é possível aprender táticas novas e sentir a progressão real ao vencer adversários experientes.
No entanto, vale mencionar o polêmico modelo de comercialização: edições deluxe oferecem trajes especiais inspirados em arcos do anime que nem estão presentes na história do jogo, e a performance do port para PC ficou bem aquém do esperado. Há relatos recorrentes de crashes e bugs, que podem ser contornados apenas mudando a linguagem do sistema operacional – um remendo totalmente fora do padrão para jogos de alto orçamento.
Comparações e Lugar no Universo dos Jogos de Luta
Quando olhamos para outros grandes jogos de luta com temática anime – como Dragon Ball FighterZ ou Naruto Ultimate Ninja Storm – está claro que Bleach: Rebirth of Souls fica em uma posição intermediária. Traz inovações nos visuais dos ataques e na ambientação, mas perde em polimento, diversidade de modos, trilha sonora evocativa e fluidez da jogabilidade. Para fãs do universo Bleach, o apelo visual e o reencontro com personagens icônicos justificam a experiência, mas quem espera um grande jogo de luta contemporâneo pode se decepcionar.
Vale a Pena?
Bleach: Rebirth of Souls é, acima de tudo, um tributo aos fãs mais apaixonados da saga. Sua recriação visual dos golpes, técnicas especiais e o clima de anime são seus maiores destaques. Entretanto, falha ao apresentar uma narrativa apressada e incompleta, trilha sonora pouco inspirada e problemas técnicos severos que prejudicam a experiência.
Para quem é fã de Bleach, a nostalgia pode compensar parte dos problemas, principalmente nos duelos online. Para os apreciadores do gênero de luta, trata-se de um título mediano, funcional mas sem grandes destaques. E para quem não tem apego pelo universo do anime, a recomendação é cautela: há opções muito superiores no mercado.
Dado seu preço elevado para um port complicado no PC, Bleach: Rebirth of Souls deixa a desejar enquanto produto, ainda que ofereça bons momentos de adrenalina e espetacularidade visual para quem busca uma dose de nostalgia shinigami.