Review – Daemon X Machina: Titanic Scion
Jogamos Daemon X Machina: Titanic Scion, novo jogo para amantes de mecha e te conto o que achamos do game.

Quando Daemon X Machina foi anunciado, muitos fãs de mechas se animaram com a promessa de poder controlar robôs de batalha em qualquer lugar – um sonho antigo de quem curtia Armored Core. Após o sucesso mediano do primeiro jogo e o tão aguardado retorno da própria franquia da FromSoftware, era de se esperar que esta sequência, Titanic Scion, apostasse em algo maior: um mundo aberto repleto de ação, exploração e customização extrema. A pergunta é: essa expansão de escopo realmente elevou a experiência da série? Vamos aos detalhes.
História: Entre Conflitos e Identidade
Desta vez tomamos as rédeas de um Outer – uma raça de humanos geneticamente modificados, caídos no Planeta Azul após a fuga de uma estação espacial chamada The Garden. Presos no eterno conflito entre Outers e humanos, seu personagem rapidamente se alista ao grupo de resistência dos Reclaimers para desafiar The Garden. O enredo acompanha sua jornada contra a organização Neun, núcleo opositor dos Outers.

A narrativa, apesar de incluir temas ambiciosos como opressão, preconceito e até o debate sobre autonomia do corpo, acaba se perdendo em meio à ação desenfreada. As intenções são boas, e há cutscenes que dão bastante contexto – além de uma dublagem anime de qualidade, cheia de energia –, mas o roteiro raramente gera impacto duradouro. O tom é mais “shonen” estilizado e homenagem ao gênero do que propriamente profundo, com alguns dilemas interessantes, mas pouca força emocional real nos momentos-chave.
Mundo Aberto: Promessa de Liberdade ou Terreno Estéril?
Explorando Hel
O maior salto da franquia é a migração do formato de missões para um mundo totalmente aberto, bem ao estilo dos grandes RPGs atuais. A ideia é válida e, em teoria, muito promissora, já que girar livremente por cenários com sua Arsenal soa como o ápice do sonho mecha. Você pode explorar zonas separadas por túneis, encontrar acampamentos inimigos, lutar contra chefes colossais em campo aberto, buscar loot em cavernas, ativar Byways para fast travel, coletar minérios e até cavalgar (ou pilotar motos transformer) — só que, apesar dos sistemas, o visual deste planeta devastado é repetitivo demais.
Apesar dos biomas diferentes e efeitos climáticos (chuva ácida, áreas contaminadas, etc.), o cenário sofre com texturas de baixa resolução e pouca variedade, transmitindo uma sensação constante de déjà-vu. Isso é levemente amenizado pela forma como o fast travel corta o tempo de deslocamento, mas as regiões acabam se tornando indistintas. Por mais que a quantidade de atividades secundárias seja boa — batalhas aleatórias, missões de escolta, mineração, desafios de coliseu, até minigames de cartas —, faltou carisma nas ambientações para realmente instigar a exploração a longo prazo. O mundo, embora grande, soa “sem alma” e às vezes é só um checklist para obter mais loot e upgrades.
Personalização de Mecha: O Verdadeiro Coração do Jogo
Se o mundo não motiva tanto, a customização, por outro lado, é absurda — e talvez seja o principal atrativo para fãs do gênero. Arsenals podem ter absolutamente tudo adaptado: cabeça, tronco, braços, pernas, armas de todo tipo, ombros, acessórios e cores com dezenas de opções, incluindo decalques próprios. O sistema de transmogrificação permite manter o visual favorito mesmo usando a peça de maior performance, uma mão na roda para quem valoriza estilo tanto quanto eficiência.

Cada parte possui classes de peso (leve, intermediário, pesado), impactando mobilidade, defesa, resistência, recuperação de Femto (a energia do jogo), vida, flinch resistance e por aí vai. Parte da diversão está em buscar, dropar, comprar e até fabricar novos componentes para criar sua build perfeita. Entre armas de fogo, lasers, mísseis, espadas e até buffs exclusivos, a variedade é enorme e rende incontáveis horas industriais de “brincar de montar robô”.
O sistema de Fusion, onde você absorve fatores genéticos dos inimigos (principalmente dos Immortals) e ganha novas habilidades, adiciona ainda mais camadas à construção do personagem. Essas habilidades vão desde ataques especiais, buffs e debuffs, até ganchos para locomoção. O preço é que tudo isso altera visualmente seu personagem, com mutações físicas bizarras — asas, olhos brilhantes, marcas na pele — que podem ser revertidas, mas a um custo considerável. É uma sacada temática interessante, mas que pode frustrar quem gosta de manter sua aparência padrão para as cutscenes.
Combate: Ação Ágil, Sistema Profundo, Faltou Peso
A jogabilidade de combate é, sem dúvida, um dos grandes méritos. A sensação de controlar seu Arsenal, impulsionar-se a toda velocidade, alternar entre ataques aéreos e terrestres e esquivar de barragens inimigas é recompensadora e frenética. Aprender a mesclar equipamentos de diferentes alcances e funções — desde duplas de armas, armas pesadas, ombro “cura”, até mísseis direcionados — cria um ritmo interessante onde dominar o timing, os ângulos e a física de voo realmente faz diferença. E para os fãs hardcore, o mapeamento de vários botões do controle só contribui para aquela sensação de estar pilotando uma máquina complexa de verdade.
No entanto, o combate sofre de um certo “peso de papel”: impactos de armas grandes ou explosões carecem daquele senso visceral de destruição — é tudo muito ágil, mas sem força. O feedback visual e sonoro das armas, mesmo com um arsenal vasto, tende ao genérico. O targeting automático torna algumas batalhas uma repetição de “travar, segurar tiro e spammar ataques”, especialmente contra mobs menores. O combate brilha mesmo em duelos contra chefes de mundo ou na Coliseu, quando a variedade de mecânicas é posta à prova.

Por outro lado, as lutas podem variar de épicas a frustrantes: alguns chefes abusam do HP exagerado, exigindo grinding ou builds hiper-específicas, enquanto outros forçam mecânicas pouco explicadas, quebrando o ritmo. A dificuldade é, no geral, bem-vinda, mas falta polimento no fluxo de certos encounters.
Conteúdo e Atividades: Muito Para Fazer, Nem Sempre Motivador
Além da campanha principal (cerca de 15 horas) — que pode ser estendida para dezenas de horas com sidequests, atividades de mundo e customização —, Titanic Scion oferece minigames, missões paralelas e uma grande variedade de possibilidades para melhorar suas construções e base. Corridas, missões coliseu, encarar world bosses cooperativamente (o co-op é completo e crossplay), e até um cardgame in-game surpreendem a cada esquina. Pena que o universo nunca atinge aquele senso de mistério e recompensa de um RPG de mundo aberto clássico: por melhor que seja voar e lutar, poucas áreas convidam a uma exploração orgânica.
Performance e Aspectos Técnicos: O Calcanhar de Aquiles
Em se tratando de performance, especialmente no Nintendo Switch 2, o resultado é inconsistente. A taxa de quadros frequentemente oscila, atingindo 30fps na maior parte do tempo, mas caindo bruscamente em batalhas e áreas populosas. As melhorias de performance pós-patch vieram acompanhadas de loadings longos, com fast travel ameaçando softlocks ocasionais em certas zonas. Crashes durante missões — embora incomuns — aparecem e podem resultar em perda de progresso. Adicionalmente, glitches visuais e texturas datadas reforçam a impressão de que o jogo “corre para dar conta”, especialmente na plataforma portátil. O autosave é espaçado, por isso, salvar manualmente se torna rotina.
Para um título com proposta tão ambiciosa, os limites técnicos dos consoles acabam freando um pouco sua grandiosidade. No entanto, nas demais plataformas, a situação é um pouco mais confortável, permitindo focar mais nas qualidades do gameplay e customização.

Multiplayer: Caos, Cooperação e Diversidade
A experiência cooperativa, com suporte a crossplay, é um dos pontos altos do pacote. Enfrentar chefes colossais em time, dividir funções de suporte, dano e defesa, e subir sua Arsenal em dupla (ou em grupo) eleva o potencial estratégico das builds. A ausência de co-op local pode decepcionar, mas, online, o matchmaking funciona bem. O game ainda incentiva “grinding” coletivo de materiais, o que pode aumentar sua vida útil se você curte aprimorar builds e itens junto dos amigos.
Vale a pena?
Daemon X Machina: Titanic Scion é um jogo que mira alto e entrega exatamente o que promete para os fãs do gênero mecha: customização profunda, combate ágil e um universo cheio de possibilidades. Sua maior oferta está em transformar cada jogador em engenheiro e piloto de sua própria fantasia robótica.
Por outro lado, o título tropeça ao tentar equilibrar esse mundo aberto com identidade visual apagada, tarefas repetitivas e uma performance que exige paciência. O combate é satisfatório, mas ainda carece daquele punch sensorial visto nos grandes expoentes do gênero. A história, com boas ideias, raramente impacta — serve mais como desculpa para ir de ponto A a B caçando upgrades.
Se você é apaixonado por robôs gigantes, ama passar horas montando builds e não se importa em abstrair um universo manjado e algumas limitações técnicas, Titanic Scion é altamente recomendável. Para quem busca algo mais inovador, ou espera um mundo aberto realmente memorável, o título talvez falhe em impressionar além de seu núcleo de fãs.
No fim das contas, é um prato cheio para engenheiros de Arsensal de plantão, mas apenas um aperitivo para quem sonha com um épico de mechas verdadeiramente inesquecível. O maior problema pra mim é a falta de localização no nosso idioma e este sem dúvidas é um ponto muito negativo para quem não entende um dos idiomas disponíveis no jogo pois há muitos detalhes técnicos que necessitam de um entendimento do idioma.