REVIEW | Detroit Become Human abre portas para o futuros dos games
Da renomada desenvolvedora Francesa, Quantic Dream – responsável pelos aclamados Heavy Rain e Beyond: Two Souls, lançados, respectivamente em 2010 e 2013 para PS3 e relançado posteriormente para PS4 – o estúdio volta mais uma vez com um título que mostra bem sobre sua forma de trabalhar usando ao máximo da inovação e inteligência artificial para desenvolver uma narrativa de […]
Da renomada desenvolvedora Francesa, Quantic Dream – responsável pelos aclamados Heavy Rain e Beyond: Two Souls, lançados, respectivamente em 2010 e 2013 para PS3 e relançado posteriormente para PS4 – o estúdio volta mais uma vez com um título que mostra bem sobre sua forma de trabalhar usando ao máximo da inovação e inteligência artificial para desenvolver uma narrativa de acordo com as escolhas do jogador, trata-se de Detroit Become Human.
Talvez essa seja uma das análises mais difíceis e demoradas que eu já tenha feito e é resultado de MUITAS HORAS de jogo, pois tive que finalizar o game diversas e repetidas vezes para medir o quanto uma escolha in-game poderia afetar o desfecho da obra, e no final, fiquei realmente fascinado e assustado como quão bem feito e realista pode ser o desenrolar dos personagens principais.
Falando em realismo, temos que comparar Detroit Become Human com outros títulos da Quantic Dream – como Heavy Rain e até mesmo Beyond TS – pois, por mais que sempre tenham tentado usar a mesma idéia baseada em controles simplificados para criação de experiências cinematrográficas focadas na narrativa, naquela época, o que fez com que talvez as coisas não tenham saído como eles esperavam foram as limitações de hardware que atrapalhavam aquela idéia principal de ter aquela tão sonhada experiência como se estivéssemos vivendo um filme dentro de um game. Não só pela qualidade dos gráficos em geral não passar a ideia de um filme, mas também pela falta de detalhamento expressivo nos personagens, coisa que para esse gênero é extremamente necessário. Mas em Detroit Become Human, o destemido e insistente David Cage, líder do estúdio – que muitas vezes mais parece um cineasta do que um desenvolvedor de jogos – quebra mais um paradigma e entrega o tão sonhado jogo com vida própria, deixando de lado características usuais de jogabilidade para entregar um gameplay com um foco narrativo em outro nível.
Detroit Become Human trás uma perspectiva muito diferente; é um thriller de ficção científica com um clima neo-noir sombrio, no qual podemos firmemente comparar com aquilo que vimos na série Black Mirror. Seu visual é incrívelmente realista pois usa toda a potência gráfica para apoiar a sua história. A fotografia do jogo por vezes nos faz esquecer que estamos no controle, pois torna tudo ainda mais deslumbrante assim como os personagens interpretados pelos atores: Valorie Curry (Kara), Jesse Williams (Markus) e Bryan Dechart (Connor). O jogo em sí não entrega somente um gráfico bem trabalhado, sua história, um drama de ficção trás três pontas soltas, alimentadas inteiramente pelas suas decisões que podem fazer de simples mudanças até levar a um grande desfecho repentinamente.
NARRATIVA
O jogo inicia com Connor, um android detetive enviado para analisar e resolver um situação com reféns em um apartamento de cobertura. Por ser um android, ele não sente dor e está programado para realizar o seu trabalho dentro de um conjunto de parâmetros. Nesta primeira situação, o seu alvo é um babá android que por algum motivo se rebelou contra a família que foi programado para cuidar e proteger. Nesse primeiro momento o jogo já mostra parte de seu potencial como narrativa pois, ao mesmo tempo em que você analisa pistas ao seu redor para entender o que está havendo e como seria a melhor forma de abordagem, a história continuar se desenrolando constantemente e apresenta a você escolhas rápidas que te farão ficar com as emoções à flor da pele por conta da velocidade em que são requisitadas, algo que é necessário para fazer com que você não precise muito analisar a situação e haja com naturalidade como faria na vida real.
Mais uma vez preciso ressaltar o realismo que o jogo te proporciona e isso torna as decisões muito mais difíceis, os personagens parecem muito reais por conta de suas expressões, suas animações, e até mesmo sua dublagem – que à propósito também é indiscutívelmente incrível, tanto a em português, quanto a americana – talvez se os personagens não fossem tão bem construidos como um todo, você olharia para eles e pensaria em seu subconsciente: “Estou jogando videogame, isso não é tão sério assim”. Mas a verdade é que você se importa com os personagens, eles deixam as suas emoções à flor da pele.
DESIGN
O design de arte é incrívelmente bem trabalhado também. A história aqui se passa em 2038 em Detroit Become Human, aqui vemos prédios brilhantes e cobertos por hologramas, estações de estacionamento e convivência de androids separados de humanos (uma visão um pouco pesada levando em considereção que por algumas pessoas alí, os android são tratados como humanos). Elementos de design como a interface de usuário inspirada na realidade, Enfim, toda a parte de design, desde menu até cenários e indicações de pontos narrativos dentro do jogo funcionam muito bem.
JOGABILIDADE
A jogabilidade é direta e resumida, mas por ser algo proposital é na medida certa! Com controles de movimentos rudimentares e eventos de tempo rápido bem pensados o jogo em momento algum se torna algo repetitivo, visto que é dividido em espécie de capítulos e que na medida em que resolvemos um passamos para o próximo capítulo do outro personagem e cada um deles possuem uma história bem diferente consequentemente mudando algumas formas de interação. Por exemplo, em seus ‘capítulos’ no comando de Connor você procurará e usará evidencias para construir uma reencenação de um incidente, representado por figuras ligadas a uma espécie de pontos que resultarão em um vídeo que poderá ser avançado ou voltado para que você possa analisar a simulação do que ocorreu naquele cenário. Já com a Kara, algumas partes da jogabilidade podem ser mais simples pois ela se trata de uma android doméstica.
PERSONAGENS
A personalidade de cada um dos três androids principais são muito diferentes, e como eu disse anteriormente; isso faz com que o jogo em momento algum se torne algo repetitivo e enjoativo. O enredo de Connor e sua personalidade ansiosa é focada na parte de resoluções criminais. Já Markus é um combatente da liberdade android, cuja sua jornada fala sobre questões sociais relevantes como a discriminação, confrontos externos e aceitação. Já Kara, trás um pouco mais de leveza ao jogo, mostra um lado mais humano dos androids – mesmo que muitas das vezes o seu silencio seja um pouco perturbador – suas situações são mais simples, como trazer o jantar de Alice (a personagem na qual você “precisa” cuidar) ou dar-lhe um beijo de boa noite, ações que te fazem mergulhar no enredo pela forte apresentação e por mais simples que pareça mostra a importancia em criar laços afetivos baseado em toda a história até ali.
VALE A PENA?
O jogo tem algumas falhas como a construção de situações forçadas em alguns momentos (principalmente na história de Markus) e coisas desnecessárias que devia ser algo opcional e não forçar com que seja apresentado a todos – como a árvore de situações após a finalização de um capítulo algo que, na minha opinião tira um pouco da magia da escolha dentro do game. Mas enfim, nada disso que citei estraga a incrível experiencia que é Detroit Become Human. O novo game da Quantic Dream pode não ser o único representante deste estilo de jogo, muitos outros games oferecem narrativas baseadas em escolhas, mas nenhuma com a sofisticação cinematográfica que vimos aqui. Detroit Become Human representa a evolução do gênero e inspira outras fraquias e desenvolvedores a fazerem o mesmo, seja investindo em gráficos, enredo ou na própria inteligência artificial, que apesar de assutadoramente avançada ainda sabemos que pode ser mais evoluida, afinal, seria incrível se um dia pudéssemos conversar com nosso personagens favoritos dentro do jogo.