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Visão: A Melhor Série da Marvel?

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De tempos em tempos, uma combinação de roteirista e personagem parece realizar um efeito único e inesperado. Grant Morrison teve esse impacto com o Homem Animal da DC nos anos 80. Chris Claremont tomou os falidos X-Men e os transformou em uma potência nos anos 70. E ainda que seja muito cedo para dizer a consequência de Tom King na estória do Visao, é inegável a qualidade e profundidade da série que ele capitaneia na Marvel atualmente.

Antes de avançar mais nesses comentários, dois avisos: primeiro, o já usual SPOILER. O segundo, triste, de que Tom King em breve deixará essa série, tendo assinado um contrato de exclusividade com a DC para assumir o principal gibi do Batman. Só digo o seguinte: se a nova série do cavaleiro das trevas não for absolutamente incrível, já estamos no negativo.

O que é ser humano?

A serie do Visão (com a edição 7 nas bancas estadunidenses a partir dessa Quarta-Feira), pergunta, de forma sutil, o que significa ser humano. Contado do ponto de vista do sintesóide vingador, a trama do primeiro arco (edição 1 a 6), mostra o Visão tentando montar, literalmente, a sua família, mulher e dois filhos, em um subúrbio nos EUA. Culmina na edição 6 com uma pergunta aparentemente técnica (quais são os tipos de problema que um computador consegue resolver), mas que na verdade aponta para a resposta do que o Visão (e nós, leitores) estamos dispostos a fazer para podermos exclamar que estamos vivos, que desejamos, que amamos.

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Já a edição 7, real estopim desse nerd aqui escrever essa revisão, é sublime, no sentido mais verdadeiro da palavra. O que temos de grandes temas, de grandes perguntas existenciais no primeiro arco, aqui é reduzido a talvez sua essência mais pura: é possível viver sem amar? Ou amar sem viver, sem se lançar a esse amor?

A trama nos leva aos principais momentos da vida de Visão junto a seu principal amor e, por muitos anos, esposa, Wanda Maximoff, a famosa Feiticeira Escarlate. A primeira página e elementos nos levam a um momento íntimo do casal e a uma tentativa do Visão de ser visto como humano com algo tão difícil em replicar em uma máquina: contar uma piada. O sucesso dele nessa tentativa, por pior que seja a tal piada, nos revela um dos melhores traços de um casal apaixonado: o de aceitação mútua do casal, o entendimento de que o bom, o ruim e o feio se compõe num tudo, e que justamente esse todo faz a relação única e viva.

A sucessão da edição nos leva a momentos de combates de ambos junto aos Vingadores, permeados de outras mensagens chave. “O amanhã sempre vem”, afirma Wanda em um tom aparentemente positivo. Sim, sempre vem, às vezes com um amanhã pleno, mas outros tanto com um amanhã punitivo, vazio dos tempos melhores que o precederam.

 

O que é uma familia?

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Em outro momento da trama, vemos a família absolutamente disfuncional de Visão e Wanda, um pai vilanesco, um irmão mutante, uma mãe bovina, outra bruxa. Mas, acima de tudo, uma família real. O contraste que se faz, posteriormente, com uma família mais convencional (Visão, Wanda e seus dois filhos) é devastadora. Como explicar à mulher (ou homem) que se ama que a percepção de família que ela tem não é real? E como delinear realidade, como se justificar como real, quando nossas ações nos tornam tão abjetos, tao inumanos? É mais real a pessoa que permite uma felicidade impossível ou aquela que destrói um sonho com a dura realidade?

Nessa mesma linha, uma pagina em especifico é tão forte, tao visceral que não seria justo desfazê-la nessas palavras despidas de contexto. Basta talvez dizer que, às vezes, nos transformamos tanto, nos afastamos tantos de nossos ideais e valores originais, que deixamos de ser nós mesmos, nos tornamos algo alheio, algo novo. E as relações previamente estabelecidas passam por um processo de destruição, muitas vezes incrivelmente dolorosa aos nossos entes mais queridos.

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O que é uma segunda chance?

A conclusão da edição apresenta o final da relação Visão e Wanda e nos remete ao começo do arco das edições 1-6. Qual a natureza de uma segunda chance? Seria ela a oportunidade de voltar no tempo e, com a sabedoria de eventos futuros, saber escolher os caminhos menos dolorosos? Ou seria ela o entendimento de que sim, mudamos, e que portanto a busca da felicidade já não pode mais ser trilhada pelos mesmos caminhos? O Visão, ao que se indica, teve uma segunda chance mais parecida com a primeira opção. E a tentativa dele de recomeçar do ponto de partida fez esse leitor antigo de quadrinhos colocar seu celular (sim, era digital) na mesa e respirar fundo. Tudo é igual. Todas as variáveis contidas e controladas. Menos a mais importante: a nossa essência, a nossa alma em interagir com elas. Viramos uma sósia, uma sombra, um copy/paste do nosso antigo ser. E os sentimentos que ali se buscam não são os próprios, mas sim emulações, vazias, daquilo que não se encontra mais ali.

Desnecessário dizer que recomendo como leitura obrigatória. E insisto: não leiam com os vícios que dizem “mas ele nem é real, é somente um robô”. Somos nós reais quando agimos contra nossa essência? Podemos fazer esse julgamento?

Quadrinhos, séries e filmes são meu principal hobby e necessidade básica do dia-a-dia! Jogador velhaco de videogame, especialmente Nintendo (por mais que isso seja difícil às vezes!). Provavelmente o maior fã de Marvel que você conhece!

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