WestWorld – Você é Humano?
O que significa ser humano? São nossos corpos? Nossas mentes? Alguma combinação de ambos, associado talvez com um senso espiritual superior? Poderia a natureza humana transcender o corpo humano e sua origem biológica? Aparentemente, Westworld, a nova série da HBO que estreou nesse Domingo (2 de Outubro) irá tentar responder essas perguntas. E se o […]
O que significa ser humano? São nossos corpos? Nossas mentes? Alguma combinação de ambos, associado talvez com um senso espiritual superior? Poderia a natureza humana transcender o corpo humano e sua origem biológica?
Aparentemente, Westworld, a nova série da HBO que estreou nesse Domingo (2 de Outubro) irá tentar responder essas perguntas. E se o primeiro episódio for algum indicativo, temos em mãos uma série provocativa, inteligente e extremamente bem produzida, como já era esperado da HBO. Vamos às nossas primeiras impressões do “Mundo do Velho Oeste”:
Primeiro, um pouco de trama para contextualizar, ainda que fique óbvio na estreia que há elementos ainda não revelados. Em um futuro próximo, o grande inventor Robert Ford (vivido por Anthony Hopkins), com o financiamento de uma corporação, consegue criar androides que beiram a perfeição em sua semelhança humana. Essas criaturas são enviadas para habitar um parque de diversão temático do Velho Oeste para os mega-ricos, onde pessoas interagem com esses androides em narrativas que duram algumas semanas.
Para os androides, a vida se resume a um loop temporal justamente na duração do período de férias desses visitantes. Ao final de cada ciclo, suas memórias são apagadas e eles voltam ao ponto zero de seus roteiros. Conforme a interação com os visitantes humanos visitantes, esses roteiros sofrem leves adaptações, mas nunca oferecendo chance de livre arbítrio aos androides. E tampouco a possibilidade deles ferirem os humanos que abusam e tripudiam de seus entes queridos.
Porém, como toda boa trama nesse estilo, algo começa a fugir do aparente controle total de Robert, de sua equipe e da corporação. Perigos internos e externos parecem ameaçar esse equilíbrio artificial e gerar comportamentos… “anômalos” aos androides.
O público da HBO, acostumado com o alto refino da produção, vai se sentir em casa. A recriação de um Velho Oeste artificial é primorosa: não somente por ambientá-lo muito bem, mas especialmente pelo senso de artificial que a direção de arte consegue aplicar. A grama é um pouco verde demais. O céu azul é um pouco azul demais. É aquela sensação da “perfeição incômoda”, claramente intencional em uma série com essa temática. Ao mesmo tempo, o design de set dos laboratórios, um contraste anti-séptico e frio ao mundo empoeirado de WestWorld, é igualmente atento aos detalhes.
O elenco traz grandes nomes, como Anthony Hopkins e Ed Harris (vivendo o “Homem de Preto”, aparentemente um visitante com uma agenda sombria) e atores mais novos que entregam no episódio de abertura ótimas atuações. Evan Woods (a principal androide, Dolores Abernathy, que vocês viram em ‘Across the Universe’ e ‘O Lutador’) revela um papel complexo, que a exige caminhar entre o artificial óbvio e o que parecem ser rotinas mais profundas. James Marsden (o também androide Teddy Flood, e eterno Ciclope dos ‘X-Men’) faz seu tema de bom moço de sempre, e até mesmo Rodrigo Santoro (o malvadão Hector Escaton, androide casca-grossa) faz bom papel. Chama a atenção o personagem de Jeffrey Wright, Bernard Lowe, o principal assistente do Doutor Ford: claramente alguém conflitado, possivelmente com um passado de perdas e dor.
Agora, o que realmente prende o espectador são as perguntas existenciais e os mistérios que já começam a surgir. Nesse artigo de primeira impressões não falaremos deles para evitar spoilers, mas os temas filosóficos… que prato cheio para o público que aprecia essas discussões. As possibilidade de temas que WestWorld pode abordar é extensa e seguramente irão atingir vários de nós em pontos centrais de nossas próprias crenças.
Afinal, se você fosse um ser programado, como saberia de fato se é real ou não? Similar aos replicantes de Blade Runner, talvez a pergunta mais justa seja quem tem autoridade para lhe chamar de real ou não, salvo você próprio? E o que você faria ao encontrar um criador que lhe puna por ser livre? Até que ponto você lutaria para escrever seu novo roteiro? Só assistindo para saber!