Guerra Civil 2: Marvel e a Cultura do Impacto
Nessa última quarta-feira, a Marvel Comics publicou a primeira edição de Guerra Civil 2 (Civil War 2), sua mais nova saga, afetando a grande maioria dos títulos da editora. Apesar de uma revista número zero que saiu na semana passada, reforçando a imagem de alguns personagens, é propriamente aqui que tudo começa. E, se ainda […]
Nessa última quarta-feira, a Marvel Comics publicou a primeira edição de Guerra Civil 2 (Civil War 2), sua mais nova saga, afetando a grande maioria dos títulos da editora. Apesar de uma revista número zero que saiu na semana passada, reforçando a imagem de alguns personagens, é propriamente aqui que tudo começa. E, se ainda que o roteiro seja competente (Brian Michael Bendiz) e a arte muito interessante (David Marquez), existem alguns problemas centrais que devem ser discutidos além da saga.
Um Pouco de Contexto
A primeira Guerra Civil, publicada em 2007 e base para o filme de mais de USD 1 bilhao de 2016, tratava do dilema ético de segurança versus liberdades individuais. Em uma época pós 11 de Setembro, quando os EUA discutiam o Patriot Act e até onde o alcance do controle governamental deveria ir na privacidade dos cidadãos, os super-heróis argumentavam se as identidades secretas deveriam se manter ocultas ou não. O roteirista Mark Millar (Kick-Ass, Wanted, Kingsman) e o desenhista Steve McNiven confeccionaram uma estória provocativa, alinhada com sua época.
A tentação de repetir a façanha, justamente no ano em que o filme (e marca) “Civil War” estão em voga parece ter sido grande demais para resistir para a Marvel.
Guerra Civil ou Minority Report?
Spoilers Adiante! A trama de Guerra Civil 2 involve os Inumanos, um específico membro dessa raça chamado Ulysses. Ultimamente a Marvel tem apostado pesado nos Inumanos, como uma alternativa de raça perseguida aos mutantes, cujos direitos no cinema estão nas mãos da Fox: a inclusão deles no centro da trama é indicativo dessa ambição da editora.
O tal Ulysses tem o dom de prever o futuro. Segundo ele, não como possibilidades, mas sim como certezas absolutas. E a incapacidade de ler sua mente impossibilita saber as reais intenções do rapaz. No primeiro uso das habilidades de Ulysses, toda a gama de heróis da Marvel tê um sucesso retumbante contra um Celestial cósmico. A Terra é salva, com poucos danos colaterais, heróis comemoram e Tony Stark paga as bebidas.
A sequência de eventos, porém, expõe o novo racha dessa guerra, agora entre o Homem de Ferro e a Capitã Marvel (Carol Danvers, ela, também, com filme para sair pela Marvel Studios). Ela, desejosa de usar Ulysses para apoiar sua equipe a prever ameaças futuras. Ele, mais respeitoso ao futuro e crítico à abordagem de prender inimigos antes que se cometam crimes. Exatamente como a trama de Minority Report: até que ponto a eficiência dos resultados conflita com a ética do julgamento?
Pois bem. No próximo uso dos poderes de Ulysses, Capitã Marvel despacha o Máquina de Combate (entre outros heróis) para capturar Thanos. Conseguem trazer o titã em custódia, mas às custas da morte de James Rhodes (o Máquina de Combate) e levando Jennifer Walters (a Mulher Hulk) a um coma talvez fatal. Tony fica furioso, confronta Carol e a disputa começa.
A Cultura do Impacto
Já não é de hoje que a Marvel manobra seu carro com um olho no volante e outro no Twitter. A vontade de fazer a maior revelação, a busca do maior impacto, tem norteado muitas das decisões da Casa das Idéias. Não deveria ser um incômodo, mas com Guerra Civil 2, a convergência de tantos pontos de interesse levam o nível de cinismo dos leitores a um patamar alto demais.
Conexão com filme atual? Com futuros filmes da Marvel? Com personagens que não estão com direitos em outros estúdios? Sim, sim e sim. E para somar mais tensão a essa situação, a morte de um dos principais heróis negros da Marvel, o Máquina de Combate. Isso não ocorre à toa.
Uma das novas séries dessa fase da Marvel, o gibi do Pantera Negra, é escrito pelo celebrado escritor estadunidense Ta-Nehisi Coates. Esse quadrinho é bastante bom, contido, abordando termos de escravidão, liberdade dos povos, muito alinhado com o corpo da obra de Coates. Quando procurado via redes sociais sobre sua opinião quanto ao triste desfecho do Máquina de Combate, ele se limitou a copiar um trecho de uma entrevista ao site ‘Newsarama’ do editor Tom Brevort. Na mesma, Tom explique que Coates teve uma opinião forte sobre a morte e que explicou o que seria entendido como impacto dos leitores.
Tomara. Tomara que a trama supere o impacto nas próximas edições e que essa não seja mais uma saga focada no click-bait da semana. Porque, até agora, ela é justamente isso. Com uma arte bonita.