Resenha | ‘Contato’ abre portas para a imaginação sem ignorar a ciência
Atenção: Se você ainda não leu o livro e pretende fazê-lo, recomendo que não leia esta resenha que tem spoilers do início ao fim. Vale muito a pena a leitura da obra! O livro de ficção científica “Contato” foi escrito por Carl Sagan em 1985 com base em um roteiro de cinema que ele e […]
Atenção: Se você ainda não leu o livro e pretende fazê-lo, recomendo que não leia esta resenha que tem spoilers do início ao fim. Vale muito a pena a leitura da obra!
O livro de ficção científica “Contato” foi escrito por Carl Sagan em 1985 com base em um roteiro de cinema que ele e sua esposa tinham escrito para o cinema no começo dos anos 1980 (o filme foi produzido em 1997).
A protagonista é Ellie Arroway, uma cientista que busca por vida inteligente fora da Terra por meio de radiotelescópios. Para quem conhece o autor, é muito perceptível ver sua personalidade e valores representados em Ellie.
Arroway tinha um relacionamento muito bom com seu pai, que morreu quando ela ainda era adolescente. Sua mãe se casou novamente com um homem que ela detesta, e agora, já com mais de 30 anos, ela mal vai visitá-la na casa de repouso. Ela é extremamente cética sobre todos os assuntos, especialmente religião. As discussões com padres, principalmente Joss, são bastante envolventes e realistas, Sagan consegue balancear muito bem o ceticismo e a fé entre os personagens do livro sem se deixar ser sensacionalista.
Após conseguir receber uma Mensagem através do radiotelescópio, Ellie e sua equipe trabalham para decodificá-la, números primos e “Pi” são a base inicial. Rapidamente, eles percebem que a linguagem é matemática – a linguagem universal – e descobrem que as milhares de páginas codificadas são instruções para que os humanos criem uma Máquina. A repercussão mundial divide muitas opiniões – vale a leitura.
É interessante a ressalta realista que Carl dá à história ao mostrar todo o interesse político e econômico por trás dos financiamentos tecnológicos. Afinal, o livro tem muito conteúdo científico – que qualquer leitor consegue entender graças à facilidade de Sagan para a divulgação científica – a ficção mesmo só entra na parte alienígena, e mesmo assim, baseada em teorias reais da ciência.
Anos e anos são levados de negociações entre todos os países do mundo sobre a construção da Máquina e cinco tripulantes são escolhidos para subir nela e serem levados para onde quer que ela vá.
Depois de ativada, a Máquina faz a viagem por “túneis de metrô” no espaço e chega até Vega, local da origem da Mensagem. O planeta em que eles desembarcam é idêntico à Terra – uma praia onde se respira oxigênio, o que os faz pensar ser uma simulação. Horas depois, os cinco são surpreendidos ao se encontrarem com as pessoas que mais amam, como Ellie vê seu pai, logo percebe que os alienígenas “fuçaram” suas memórias para se conectar. Eles admitem, e afirmam fazer isso para tornar as coisas mais fáceis.
Em uma breve e emocionante conversa, eles afirmam que analisaram que os humanos ainda são muito novos e temos muito ainda o que aprender, mas que podemos nos desenvolver com calma. Os sonhos, o amor e a música da raça humana são ressaltados como características favoráveis, este é um claro momento da romantização que o autor sempre viu na ciência. Sem nem mesmo deixar uma “mensagem” de volta para a Terra, ele explica rapidamente sobre o funcionamento dos “túneis de metrô”, dá dicas em “Pi” e fala de contato com outras civilizações.
A volta para a Terra não é demorada, e logo os cinco descobrem que nada do que foi gravado, ficou salvo. Não há provas desta viagem, e mais: só se passaram 20 minutos terrenos desde que eles “se foram”. Ao público é dito que a Máquina de trilhões de dólares nunca foi ligada, que houve erros. Após serem submetidos a interrogatórios humilhantes, os companheiros de viagem prometem continuar trabalhando para descobrir o que houve e provar que foi real.
Em conclusão surpreendente, a mãe de Ellie morre e deixa uma carta para ela. Seu padrasto a entrega. Sozinha em seu quarto, ela descobre que o homem que sempre detestou é o seu verdadeiro pai. Atônita, Arroway percebeu que “durante toda a sua vida, estudara o universo, mas desprezara sua mais clara mensagem: para criaturas pequenas como nós, a vastidão só é suportável através do amor.”. É neste mesmo momento que ela recebe em seu fax o resultado de sua nova pesquisa baseada nas dicas que recebeu em “Pi”. Um novo passo é dado para o desenvolvimento científico no planeta Terra.
O livro “Contato” de Carl Sagan foi publicado no Brasil pela editora Companhia das Letras e pode ser encontrado no site das principais livrarias do país.