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Cafe Society – Amor Sem Destino

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Fazer resenha de qualquer filme de Woody Allen apresenta alguns desafios. Primeiro, porque há muito pouco a ser dito sobre o estilo e conjunto da obra do diretor que já não tenha sido repetido inúmeras vezes por um quantidade enorme de canais. Segundo, porque é igualmente difícil falar de um de seus filmes sem acabar se perdendo em uma rede de comparações com outras obras; não em termos de conexões da trama em si, mas sim em referências de tema e recorrências. Por conta disso, geralmente acabo apelando para digressões sobre o que o filme acabou provocando em mim mais do que fazendo uma crítica propriamente dita; mas o objetivo de um filme é esse, ao final do dia, não? Então perdoem qualquer abuso.

Cafe Society conta a história de Bobby (Jesse Eisenberg), um jovem rapaz judeu do Bronx que se muda para Los Angeles em busca de uma vida e carreira diferentes do que trabalhar no negócio de seu pai em Nova Iorque. Com a ajuda de seu tio, Phil (Steve Carell), um grande produtor de Hollywood, tem sua entrada no show business. Ao mesmo tempo, acaba desenvolvendo um  amor “semi-respondido” por Vonnie (Kristen Stewart), assistente do mesmo escritório onde Bobby vai trabalhar.

Falar mais do que isso enquanto sinopse é um desserviço ao filme. Muito do que faz Cafe Society um ótimo filme da “leva moderna” de Woody Allen é como ele faz o público acompanhar a evolução dos personagens principais ao redor de uma trama extremamente simples. É um filme sobre a natureza do gostar e ser gostado; sobre como papéis em relacionamentos mudam ao longo do tempo e sobre como pessoas evoluem ao longo dos anos. Mas, acima de tudo, sobre como alguns sentimentos são imutáveis, constantes, enquanto todo o resto sofre uma metamorfose ao seu redor. Confuso, contraditório? Sim, exatamente como alguns amores que nos deparamos na vida.

Bobby obviamente é o elemento que representa Allen no conflito – o eterno elo atrapalhado e confuso, mas que consegue ter sucesso apesar do cenário que supera sua habilidades mais óbvias – com uma atuação bastante capaz de Eisenberg. Claro, pode-se dizer que ele está fazendo um papel dele mesmo (novamente), e não seria exatamente uma mentira, mas mesmo assim é feito de maneira muito alinhada à trama do filme. Stewart como Vonnie está em um patamar acima, mas talvez por motivos além de sua atuação. Veja: é necessário ter um pouco de raiva de sua personagem para que o filme funcione. Não ódio, não desprezo, mas um pouco de raiva. E toda a aura da atriz e a carga que ela traz para Cafe Society acertam em cheio nesse sentido.

O elenco de apoio é excelente, liderado por Steve Carrel como o tio Phil (injusto até chamá-lo de apoio). Carrel tem cada vez mais se estabelecido como um ator versátil e aqui ele convence como o “macho alfa” (até onde machos são alfa em um filme de Woody Allen). Blake Lively tem um papel menor como Veronica, mas o entrega de maneira precisa, nada mais, nada menos do que o filme exige (e sua beleza óbvia e inconteste é importante para a mensagem de Cafe Society). A família de Bobby, seus pais e tios dão um show à parte, assim como os amigos nova-iorquinos que são elo na trama especialmente para a segunda parte do filme. São esses personagens e atores que formam todo o cenário de Cafe Society e o fazem de uma maneira orgânica e natural.

Para fechar: há dois momentos no ato final (um sobre um encontro em uma boate, o outro em um réveillon) que deixam quem está engajado no filme no chão. Enquanto o primeiro desses momentos mostra, de forma dura, como as pessoas mudam além do ponto do reconhecimento, o segundo revela como certos sentimentos são imutáveis, apesar das próprias mudanças que a pessoa que os sente e o alvo desse sentimentos tenham passado. Certas coisas são eternas, ainda que sem destino. Come what may.

 

Quadrinhos, séries e filmes são meu principal hobby e necessidade básica do dia-a-dia! Jogador velhaco de videogame, especialmente Nintendo (por mais que isso seja difícil às vezes!). Provavelmente o maior fã de Marvel que você conhece!

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