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Review | A inovadora e provocativa terceira temporada de Black Mirror

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Black Mirror acaba de voltar para a sua terceira temporada na Netflix. Na verdade, esta é a sua primeira como Original Netflix, o que ocasionou um pouco na mudança do ponto de vista e no que a série queria atingir em relação às anteriores.

O 3×01 [Nosedive], apresenta uma mulher desesperada para ser notada nas mídias sociais e que acha que tirou a sorte grande ao ser convidada a um casamento luxuoso. O episódio traz um assunto muito discutido nos dias de hoje: a felicidade nas redes sociais. A ilusão de que todos somos felizes pois publicamos apenas fotos com animais, de comida, de sorrisos, etc. O que é interessante na realidade da personagem, é que a inclusão social se dá pela popularidade, as pessoas usam uma lente que pontuam nas redes sociais cada gesto que elas façam, as relações interpessoais influenciam essa pontuação (likes), então são todos muito obcecados por atingir o ideal da perfeição e agradar a todos, assim recebendo uma pontuação alta (que vai até 5 estrelas). Mas essa pontuação também não vale apenas como popularidade nas redes sociais, elas te dão acessos privilegiados, se você for um “premium”, alguém com nota acima de 4,5, você ganha ingressos VIP, descontos, etc.

Essa busca incessante chega ao ridículo de haver uma falsa valorização do real, como a cena em que a protagonista cria uma bela composição e fotografa e publica a foto de um café que ela pediu com a legenda de que ele está delicioso, e quando ela experimenta, ele é tão horrível que ela joga fora. Porém não é tão fácil se desfazer desse meio, afinal, quando as pessoas têm comportamentos que causam desordem social, elas recebem baixa pontuação, o desprezo e consequentemente a exclusão social. É o que eventualmente acontece com a protagonista, que sente na pele o que é ser uma “pop” de 4,2 e passar para 2,8, que se esforça para “ser feliz”: não ficar brava, não gritar, tomar cuidado com cada palavra dita, expressões. É neste momento que ela conhece uma caminhoneira que também tem baixa pontuação e aprende que “no mundo só nos importamos com nossas merdas e esquecemos do que realmente importa”.

A composição fotográfica do episódio também é um charme a parte, os personagens com alta pontuação sempre estão com roupas pasteis, dando a sensação de limpeza e superioridade, ao contrário das sujeiras nos corpos dos que têm notas baixas, seja por acidente ou porque eles ligaram o f0d@-s& para o novo sistema. Ao retirar a lente, as pessoas começam a enxergar. Para os leitores de Saramago, Nosedive lembra muito o livro ‘Ensaio sobre a Cegueira’.

O 3×02 [Playtest] conta a história de um viajante americano que se inscreve para testar um novo sistema de jogo revolucionário na Inglaterra, mas descobre que as emoções são mais reais do que imaginava. O episódio é excelente, é cativante e surpreendente, mas faltou criatividade para o roteirista. É uma cópia perfeita da estrutura do roteiro do filme de ficção científica ‘A Origem’ (2010). Um rapaz fugindo de problemas pessoais, com pendências a tratar com a mãe, que quando entra no jogo, começa um jogo dentro do jogo e assim por diante. Novamente: o roteiro é brilhante, mas ele pertence ao ‘A Origem’, não é inovador.

Em 3×03 [Shut Up and Dance], um vírus ataca um computador e seu usuário tem uma difícil escolha a fazer: executar as ordens que recebe ou ter sua intimidade exposta? A situação parece ser bem simples: o jovem assiste pornografia e se masturba sem saber que está sendo filmado por sua webcam. Os hackers gravam fotos, vídeos e mensagens trocadas dos personagens com ações similares e começa o jogo de executar as ordens chantageando-os. Está tudo nas mãos dos hackeres que não dão garantias de nada. Durante o episódio inteiro, ficamos indignados pela invasão de privacidade sofrida pelo protagonista, que é obrigado a passar por diversas humilhações para não ser exposto na internet. É um episódio fascinante e um dos melhores da série, mostra a diferença de ser um Original Netflix, que sempre trata as relações sociais em suas séries. No final, a grande revelação: o jovem não estava apenas assistindo pornografia, e sim vendo fotos de crianças enquanto se masturbava. Uma cena pesada, que incomoda o quanto deve incomodar e mostra algo que sempre temos que nos lembrar: ninguém tem cara de mal, ninguém tem cara de ruim, são as nossas ações que fazem que nós somos, não existe essa de “ele não parece…”.

No 3×04 [San Janupero] temos um episódio completamente diferente de qualquer outro já feito em Black Mirror, pois ele se passa no passado, mais precisamente em 1987, em uma cidade litorânea, com uma jovem tímida e uma garota extrovertida que embarcam em um intenso relacionamento que parece transcender tempo e espaço. Mais ou menos na metade dele descobrimos que isso foi possível graças a um efeito positivo da tecnologia na mente das pessoas no futuro: um aparelho acoplado no cérebro permite que alguém que não possa ter uma vida independente, que esteja condenado a ficar em uma cama para sempre, viva uma vida criada pelo cérebro. É similar ao filme Matrix. As jovens se encontram uma vez por semana porque as visitas no hospital têm essa periodicidade. No futuro, a tímida está de cama e a extrovertida vai visitá-la. É uma chance de viver na eternidade proporcionada pela medicina, pois quando as pessoas morrem, o aparelho continua vivo então essa história que se passa na mente delas, continua eternamente, é um pós-morte criado com base em suas melhores memórias, um lugar que nada realmente importa, apenas sua vida, a tão sonhada felicidade eterna. É um episódio inovador também por ser o primeiro a mostrar um efeito positivo da tecnologia do futuro.

Em 3×05 [Men Against Fire], após sua primeira batalha contra um inimigo elusivo, um soldado começa a ter sensações estranhas e sentir pequenas falhas técnicas. Ao ver o episódio superficialmente, ele parece ser fraco, fantasioso demais, mas vejamos o contexto histórico dos EUA. Foi uma crítica direta ao militarismo e imperialismo estadunidense. Um país que distrai seus soldados com publicidades de glórias do Tio Sam, as glórias em matar o inimigo criado tão bem que eles só conseguem ver monstros e não humanos, a ideia de demonização de pessoas. Foram essas as técnicas usadas no holocausto, Guerra do Vietnã e hoje podemos ver com os refugiados. É um episódio que mostra que conceitos descartados cientificamente há 100 anos, como a de eugenia, a “raça pura”, de limpar o mundo de pessoas deficientes para as próximas gerações, ideias não estão tão distantes quanto deveriam. O ódio pelo desconhecido, afinal, há uma máscara, uma película protetora dos olhos que não deixa o soldado ver o real e sim apenas monstros, facilitando a matança. Isso é criado pela lavagem cerebral que fazem em pessoas que não têm a oportunidade de criar um pensamento crítico. Men Against Fire trata de uma situação importantíssima que estamos passando, um episódio que exige interpretação, e não apenas ver o que aparece, sugiro o filme ‘Ele Está de Volta'(2015).

O episódio final 3×06 [Hated in the Nation] é o mais longo da série: tem 1h30min. Uma detetive, com a ajuda de sua estagiária, investiga uma sequência de mortes de pessoas impopulares na internet. Mais um jogo: uma pessoa faz viralizar a hashtag: #Deathto (MorteA), em que as pessoas têm que citar a tag + o nome da pessoa que eles querem que morra + a foto da pessoa e todo dia às 17h o mais votado será assassinado. A pessoa por trás disso tudo é um excelente programador que hackeia o sistema de uma empresa que comanda abelhas eletrônicas no trabalho de substituir as reais que estão a caminho de extinção. Essas abelhas param de fazer seu trabalho e começam a atacar as vítimas, essas cenas são muito desesperadoras, lembra muito o filme ‘Os Pássaros’ (1963) do grande Hitchcock. A finalidade da ação desse programador é ainda mais perturbadora: No fim, os alvos eram todos os que usaram a hashtag com o intuito de matar alguém, de espalhar o ódio sem motivo nas redes sociais, os justiceiros da internet, as vítimas únicas e anteriores eram apenas uma armadilha.

Black Mirror sendo Black Mirror: Inovadora, perturbadora e incômoda. Uma das melhores séries da atualidade, sem dúvidas.

Sou estudante de jornalismo, tenho sede por conhecimento e pelo aprendizado. O estudo sobre ciências e cultura ocupam boa parte do meu tempo, acredito que entrar em contato com outras culturas é a melhor forma de conhecermos a nós mesmos, aproveito isso o máximo possível, principalmente por ter a sorte de ter nascido em um país tão diversificado como o Brasil. Sou apaixonada por ficção científica e estou sempre a procura de algo novo para conhecer.

2 Comments

2 Comments

  1. JvpNfAzsi

    19 de abril de 2024 at 14:16

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  2. pfAqVGdSbs

    22 de abril de 2024 at 06:54

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